sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Movimentar o Movimento: balanço e perspectiva para o Movimento Estudantil


O ano de 2008 iniciou e com ele a necessidade de dar sequência a reorganização de todo o conjunto dos movimentos sociais em nosso país, dentre eles o movimento estudantil, para assim fazer frente aos ataques do governo neo-liberal de Lula e do PT, dos governos estaduais e das reitorias, todos estes acobertados pela burocracia estudantil organizado em torno da degenerada UNE.Para que possa se armar e traçar um planejamento estratégico que dê conta de fazer frente aos ataques contra a educação e à juventude, nada melhor ao movimento estudantil do que fazer um profundo balanço sobre as recentes lutas que, ainda que timidamente, voltaram a movimentar nosso imobilizado movimento.Mas, quando falamos na importância de um balanço, falamos em um verdadeiro balanço, que seja crítico, concreto e realista, que fuja das análises ufanistas e idealistas que normalmente vigoram dentro do ME, inclusive entre a maioria dos setores da “esquerda anti-governista” . Balanços estes que não conseguem identificar debilidades no seio de nossas lutas e apontam como se tudo estivesse as “mil maravilhas”, “a esquerda esta unida”, “pluc plac zum, o governo perdeu mais um”, “é a hora de se fundar uma entidade” e... e o governo conseguiu aprovar o REUNI em basicamente todas as universidades, acompanhado de uma monstruosa onda de repressão aos lutadores que até agora não conseguiu encontrar uma resistência de fato!Infelizmente a grande maioria dos setores da esquerda do movimento estudantil vem pontuando suas análises neste sentido. Ingenuidade? Oportunismo? Bom, acreditamos que entrar nessa polêmica também não seria um eixo para um balanço sério, já que também não pretendemos cair nos vícios daqueles que no intuito de fazer um balanço crítico do desenvolvimento das lutas se afogam em denuncismos que não possuem outro pretexto se não o de apresentarem- se como os detentores de uma linha inquestionável a ser seguida pelas massas em sua histórica caminhada rumo a uma nova sociedade e com isso meramente engordar suas organizações. Não, nosso intuito não é esse, o que pretendemos aqui é justamente discutir a necessidade de uma nova concepção de movimento estudantil, que possa colocar os estudantes e toda a juventude pobre como protagonistas de sua própria história.O ano passado se iniciou com um grande e louvável esforço dos lutadores de nosso movimento para que se efetivasse um forte pólo nacional que nos unificasse, a Frente de Luta Contra a Reforma Universitária. Encontros já haviam sido realizados anteriormente, mais a largada foi dada oficialmente na plenária nacional, realizada no mês de março de 2007. Contando mais de mil estudantes de todos os cantos do Brasil, onde muitos estavam organizados na CONLUTE e na FOE, mas a grande maioria independentes dispersos, que vinham tendo seu primeiro contato com o movimento ali, a plenária foi um espaço que pôde mostrar como a grande maioria dos setores anti-governistas ainda se encontram submetidos em uma prática burocrática com os acordos de forças imperando em detrimento das reais necessidades do movimento. As conseqüências destas práticas foram sentidas na pele pelos estudantes em luta no decorrer de 2007.Ao contrário de usar aquele espaço para uma ampla discussão que pudesse elencar um planejamento ao movimento, a plenária se viu reduzida a painéis, com pouquíssimo tempo para os grupos de discussão, que terminaram sendo apenas consultivos, uma vez que só seria deliberado como resolução final o que fosse consenso, não sendo possível assim a votação. Oras, o que seria consenso naquele espaço? O que fosse consenso em um GD podia não ser consenso em outro, mas na hora da plenária final um documento já estava redigido e foi aclamado em meio a um show de batuques, numa situação que mais parecia ser a caricatura de um CONUNE.De lá pra cá, muitas mobilizações foram protagonizadas, com destaque ao acampamento na UFMT e as ocupações da USP, UFAL, UFBA (desocupada pela Polícia Federal), UFRJ, UFF, Fundação Santo André, PUC/SP e UNESP Araraquara, dentre outras. Estas três últimas foram desocupadas pela tropa de choque, sendo que a última delas deixou um saldo de 90 estudantes presos.No entanto, apesar de conseguir reoxigenar o ME, essas mobilizações pouco conseguiram se unificar, indo além da militância ou da “vanguarda”, como muitos gostam de dizer. Reflexo de como as coisas começaram em março. A Frente de Luta Contra a Reforma Universitária em pouquíssimos locais conseguiu se efetivar como um pólo de unidade para as lutas diretas, se manifestando na maioria das vezes apenas nas eleições de DCEs e CAs.Faltou a existência de um organismo que desse conta de unificar e coordenar nossa luta a nível nacional. Tanta a Frente como a CONLUTE, espaços que viemos construindo, passaram longe de tal mérito em função de seus resquícios burocráticos. A concepção aparelhista, onde a centralidade do ME é a de “conquista” do maior número de entidades ainda prevalece, assim como, as reuniões chamadas as pressas, inviabilizando setores minoritários de se organizarem, as acordatas de direção e etc. Vícios estes que inviabilizam qualquer instância que pretenda impulsionar um reascenso das lutas.Frente a tudo isso, vimos a discussão da fundação de uma nova entidade estudantil caminhar paralela a essas lutas no decorrer de 2007 e que deve se apresentar agora, mais do que nunca, como “a discussão do ano”. Não é a toa que um congresso nacional de estudantes, tendo essa discussão como eixo central está sendo convocado para meados deste ano. Acreditamos, que tanto um congresso com lutadores eleitos na base, como a discussão de uma nova entidade são de fundamental importância para o desenvolvimento do ME, no entanto, como assinalamos acima não podemos nos prender a análises idealistas e deslocadas da realidade de forma a satisfazer egos. Não temos a mínima dúvida de que necessitamos de uma nova entidade nacional, como ferramenta para unificar as lutas e construída na base, assim como também não temos dúvida de que, agora não temos as mínimas condições para tal empreitada.Uma entidade que tenha como objetivo interferir na realidade não poderá em momento algum ser fundada por decreto, será impulsionada, sobretudo, a partir de cada sala de aula, de cada pátio, de cada ato de rua, de cada ocupação e não pela simples conquista de alguns DCEs. Pouco conseguimos avançar no sentido de imprimir um novo ascenso do ME, e a prova disso é como a reação vem nos atingindo. O final deste ano poderá inclusive imprimir uma derrota nestas universidade onde a Frente festejou a derrota do governo nos DCEs, já que o movimento continua preso a “vanguarda”, e então o que fará a nova entidade? Acusará os governistas de ganhar as eleições só porque fazem festas e outras formas baratas de cooptação e assim aguardará um novo surto de consciência nos estudantes?Para além de derrotar o governismo o dilema do Movimento Estudantil continua sendo o mesmo de sempre: ser capaz de colocar o conjunto dos estudantes em movimento na busca de um novo modelo de educação e sociedade. Tarefas estas que vão muito além da “dança de cadeiras” ou da “crise de direçõesFrente Estudantil do Fórum do Anarquismo Organizado – FAO Brasil

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